09/07/2012 - Adotados e devolvidos - Folha Universal

09/07/2012 09:51

 

A adoção de crianças e adolescentes no Brasil deveria ser simples, rápida e fácil. Principalmente depois de 2009, quando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sofreu alterações, em tese, para melhorar inclusive esse processo. O que se verifica, porém, é exatamente o oposto: um cenário complicado, lento e difícil. Causado por desinformação e despreparo, falta de estrutura e de pessoal e, recentemente, pelo drama da devolução.


Para a criança devolvida, não importa qual é a falha que interrompe seu caminho até um novo lar. "Os danos são terríveis, destroem parte da identidade e da autoestima da pessoa. Faz com que a criança tenha comportamentos interiorizados, depressão, ansiedade e grande dificuldade de vinculação afetiva", afirma a psicóloga Lidia Weber, professora da Universidade Federal do Paraná e principal especialista em adoção no País.


Só dois casos de devolução foram divulgados em jornais brasileiros na última década. Parece pouco, mas estima-se que muitos outros nem sequer cheguem ao noticiário, pois não há dados oficiais sobre devoluções no Brasil. "Não existe número de quase nada", reclama Lidia. "Pensei em levantar esses números e até comecei, mas é praticamente impossível."


O mais recente episódio aconteceu em Gaspar, cidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Dois irmãos foram adotados por um casal que, em 2010, 6 anos depois, quis devolver o menino e permanecer com a menina. Assistente social e psicóloga, integrantes do corpo técnico da Vara da Infância e da Juventude, verificaram que não havia condições de a família ficar com nenhum e ambos retornaram para a instituição de acolhimento, os antigos abrigos. A Justiça ainda determinou indenização por danos morais em R$ 80 mil, valor que foi depositado em juízo e será recuperado pelos jovens quando completarem 18 anos.

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