07/02/2012 - Descoberta rede de tráfico de crianças em Estado no México - Jornal o Tempo
Zapopan, México. A vida parecia sorrir para Karla Zepeda, 15, quando uma mulher foi até seu bairro poeirento procurando por bebês que seriam fotografados para uma campana antiaborto. A mulher pediu para usar sua filha durante uma semana de sessão de fotos por US$ 775 (R$ 1.330) - pequena fortuna para a adolescente que ganha US$ 180 por mês e divide a pequena casa com a mãe doente, o padrasto e três irmãos. Mas o objetivo não era apenas registrar a filha Camila, 9 meses, em fotografias.
Investigadores do Estado de Jalisco, no México, dizem que a criança foi deixada durante semanas sob os cuidados de um casal de irlandeses, que tinha ido para Ajijic, cidade de condomínios fechados a 60 km de Zapopan, pensando que estava adotando a menina.
Promotores disseram que, aparentemente, a criança fazia parte de uma rede ilegal de adoção que ilude tanto jovens mães que tentam ganhar um dinheiro extra para cuidar dos filhos, quanto casais irlandeses desesperados para se tornarem pais.
Camila e outras nove crianças foram entregues a funcionários do Estado, que suspeita que elas estavam sendo preparadas para adoções ilegais. Pistas indicam que muitas outras crianças podem ter sido alvo da rede. A investigadora-chefe, Blanca Barron, acredita que a rede esteja operando há 20 anos, embora ela não tenha fornecido detalhes. Os promotores disseram que quatro das crianças mostravam sinais de abuso sexual.
Nove pessoas foram detidas, dentre elas dois suspeitos de ser líderes da rede, mas ninguém havia sido indiciado. Pelo menos 15 cidadãos irlandeses foram interrogados, segundo a Promotoria Geral de Jalisco, mas as autoridades não divulgaram nomes. Vizinhos disseram que a maioria, senão todos, voltou para a Irlanda após passarem meses ou semanas em Ajijic, tentando atender às exigências para adotar. Ninguém foi detido.
Para Karla Zepeda, a história começou em agosto de 2011, quando Guadalupe Bosquez se aproximou dela e a mãe concordou em emprestar sua filha para uma campanha antiaborto. Mais tarde, Bosquez voltou com outra mulher, Silvia Soto, e deu a ela metade do dinheiro ao levar a criança. A mãe recebeu a outra metade duas semanas depois, quando levou Camila de volta.
"Eles me mostraram um pôster no qual minha menina estava com outras crianças e no qual estava escrito "não ao aborto, sim à vida. Tudo parecia muito normal", contou Karla.
Outras sete mulheres, a maioria entre 15 e 20 anos, concordaram em permitir que seus bebês participassem da campanha. Todas negam que tenham entregado os filhos para adoção.
"Estamos passando por um pesadelo", disse Fernanda Montes, 18, dona de casa, que gastou parte dos US$ 670 para pagar a conta do hospital após o nascimento de seu filho de 3 meses.
www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=194935,OTE&busca=ado%E7%E3o%20de%20crian%E7a&pagina=1